sábado, 27 de fevereiro de 2010

- sem título -

Um tanto de uísque com muita saudade.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

- Trovões de merda -

A chuva forte do lado de fora do carro zombava de mim enquanto eu a olhava.
Ela carregava todo o lixo das ruas, mas fazia questão de ficar longe dos sorrisos estúpidos e irônicos que me acompanhavam no banco traseiro e no meu próprio rosto.

Ela ficava cada vez mais forte, querendo destruir os tímpanos de quem não sabia lhe dar ouvidos. Era como uma sinfonia saindo dos canos, jorrando para fora das casas almas de pessoas pálidas.
A zombaria não tinha fim.
Para onde quer que eu olhasse havia calçadas limpas e gente molhada que usava a chuva como disfarce para reclamar de qualquer coisa.

Depois de cinco minutos o desperdício das ruas já entupiam os bueiros. E eles o vomitavam.
Os bueiros preferiam os ratos. Eram mais limpos que aquele lixo.

Depois de vinte minutos a sujeira que foi embora como em uma descarga refletia no céu cinza, quase negro. Era como um ritual de castigo aos humanos. Talvez eu não fosse humana o suficiente, não me sentia castigada. Mesmo estando lá, seca, intacta, imunda, confinada.
Eu era a rainha da imundície.

Aquele céu me intrigava. Me deixava ansiosa. Era como se Deus quisesse me desafiar, e eu sabia que ele não tinha chance.
Senti vontade de gargalhar.

A chuva não queria me levar.
E eu achava excitante insultá-la por isso